Edição 353 – A China nas negociações entre Israel e Irã
Nesta edição: Li Qiang | Carros em Shanghai | DeepSeek na Alemanha | Fim da LSD em Hong Kong | Jogo controverso
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Nesta segunda-feira (30), o Clube do Livro de Literatura Chinesa se reúne mais uma vez. A obra a ser discutida é a coletânea de contos New Voices in Chinese Science Fiction. O encontro será às 20h, pelo Google Meets. Para receber o link, se inscreva na newsletter do Clube.📚
Tranquilizando. Entre 24 e 26 de junho, Tianjin recebeu o encontro do Fórum Econômico Mundial apelidado de “Davos de Verão” - uma referência ao importante encontro econômico que acontece anualmente na Suíça no inverno. Oficialmente chamada de Reunião Anual dos Novos Campeões, o premiê chinês Li Qiang fez o discurso de abertura e pediu mais cooperação econômica entre as nações, bem como falou da necessidade de posturas construtivas, mencionou o aumento exponencial de barreiras tarifárias nos últimos cinco anos e ressaltou o papel da China como um dos motores da economia global e que a tecnologia chinesa tem sido uma das bases disso. Aliás, Li é quem representará a China na Cúpula dos Brics no Rio de Janeiro no começo de julho, após Xi cancelar sua vinda ao Brasil.
Deu um apavoro. Que a indústria automotiva chinesa está em alta não é novidade — já escrevemos algumas vezes sobre isso, especialmente quando falamos de veículos elétricos. A Auto Shanghai, exposição de carros mais antiga realizada no país, é um demonstrador dessa potência e das novidades que vêm por aí. Esta matéria da Wired descreve como a 21ª edição do evento, realizada em abril, chegou para pressionar os países ocidentais com mais de 12 novos lançamentos de marcas globais. Além de que chamou a atenção pelo sucesso de público em contraste com o esvaziamento de outros eventos similares em cidades mais tradicionais nos EUA e Europa. Marcas chinesas (famosas ou não) marcaram presença com design inovador, especialmente no campo dos veículos elétricos e de luxo. Mais interessante ainda é que essa mudança aconteceu em cerca de apenas uma década, segundo o autor. A matéria conta que isso se deu não apenas pelo investimento pesado do Estado e pelo CTRL+C CTRL+V de marcas famosas que acontecia até pouco tempo — mas também porque as empresas chinesas fizeram um esforço consciente em contratar talentos globais.
Em meio à tensão crescente no Oriente Médio, a China se posiciona como mediadora, mas será que é suficiente? Em 2023, Pequim havia se posicionado para mediar o conflito entre Israel e Palestina; e no mesmo ano, ajudou a firmar um acordo entre Arábia Saudita e Irã. Dessa vez — e com aparentemente maiores riscos — a diplomacia chinesa se posicionou de novo como potencial mediadora e falou com ambos os governos de Israel e Irã após a escalada dos ataques há duas semanas, conta a Al Jazeera. Os interesses da China na região não são poucos — com investimentos altos na tecnologia israelense e o papel que Pequim tem na economia do Irã, sendo o principal importador de petróleo do país. Mas a postura tradicional de não interferência chinesa é colocada em xeque nesses momentos por muita gente, conforme comenta a matéria: com a crescente importância do país e poderio militar, Pequim poderia pressionar em contextos de conflitos para que as partes envolvidas sentem para negociar. Outros apontam que pode ser uma estratégia de longo prazo de se colocar como “responsável” em comparação com a postura beligerante dos Estados Unidos. Nas redes sociais, as opiniões são diversas e vale o resumo do China Digital Times.
Vai e vem. Apesar de tudo, os Estados Unidos e a China vem conseguindo negociar em algumas instâncias. Na sexta-feira (27), os dois países assinaram um acordo referente às terras raras — minerais extremamente importantes para a indústria da tecnologia. Em troca da revisão de pedidos de exportação pela China, os EUA irão levantar algumas das restrições atuais da guerra tarifária. A negociação vem na esteira de uma série de conversas em Genebra e, mais recentemente, em Londres entre as duas potências globais e a ligação entre os dois líderes há algumas semanas. Na semana passada, ao que tudo indicava uma das vitórias de Pequim na negociação incluía os EUA não revogar os vistos de estudantes chineses conforme noticiado — não ficou claro se isso se manteve na versão final do acordo.
Dados viajantes. Lembra da DeepSeek, a empresa chinesa dona de um grande modelo de linguagem (LLM), o DeepSeek r-1, que abalou o cenário das inteligências artificiais no começo do ano por conta do seu baixo custo de treinamento? Ela está sendo banida na Alemanha: a comissária responsável pela proteção de dados no país, Meike Kamp, solicitou que Apple e Android removam o aplicativo da startup de suas lojas. A razão é a de sempre: o envio de dados de usuários para a China. Como observou a Reuters, esse fato é informado nos termos de uso da plataforma, mas Kamp afirma que a DeepSeek não ofereceu provas convincentes, quando solicitadas pela agência, de que os dados sejam protegidos do governo chinês de acordo com os requerimentos da legislação da União Europeia. Como contamos por aqui, já em janeiro a Itália se tornou o primeiro país a bloquear o acesso ao app, sendo logo seguida pela Coreia do Sul; Taiwan e Austrália proibiram o uso por funcionários públicos (assim como alguns órgãos públicos nos EUA e o estado do Texas).
Dia da marmota. Mais uma organização civil de Hong Kong irá encerrar duas atividades: desta vez é a League of Social Democrats (LSD), criada em 2006 para pleitear a democracia na região administrativa especial (RAE). O anúncio foi feito na última quarta-feira (25) pelo presidente do grupo, Chan Po-ying, em um canal de Whatsapp utilizado para comunicação com jornalistas, e um pronunciamento oficial é esperado para este domingo. A LSD era considerada a facção mais radical do movimento pró-democracia de Hong Kong, e três membros do grupo chegaram a fazer parte dos conselhos legislativos e distritais antes que os cargos passassem a ser exclusivos para “patriotas”.
O timing do fim da LSD é no mínimo muito simbólico. Na próxima segunda-feira (30), completam-se cinco anos desde a aprovação da Lei de Segurança Nacional em Hong Kong e, no dia seguinte, será celebrado o 28o aniversário da transferência de soberania da RAE da coroa britânica para a China. Além disso, há quatro anos, em 21 de junho de 2021, foi publicada a última edição do Apple Daily, jornal honconguense pertencente a Jimmy Lai — preso em 2020, atualmente com a saúde em deterioração. Para marcar a data, a organização Repórteres Sem Fronteiras convidou profissionais que fizeram parte daquela redação e outros jornalistas honconguenses agora exilados para criar uma edição especial celebrando o espírito do Apple Daily — vale conferir. Segundo o índice da World Press Freedom, Hong Kong ocupa em 2025 a posição 140 (de 180) em seu ranking de liberdade de imprensa; em 2005, ocupava a 18a posição.
Não há paz. Um controverso jogo lançado na plataforma Steam ganhou atenção na China na última semana. Com o nome de Vingança Contra Interesseiras, é um prato cheio para comentários incel e estereótipos machistas em que você joga como um homem em busca de vingança contra mulheres querendo te manipular para roubar o seu dinheiro. A história que motiva o jogo teoricamente se baseia em um caso real, que resultou no suicídio de um influenciador de jogos em 2024 — algo que a polícia desmentiu durante a investigação. Logo após a publicação do jogo, ele subiu para os mais vendidos (aliás sendo vendido por um preço abaixo do mercado), mas foi tirado do ar pela plataforma. Um rebranding do nome e ele voltou e novamente foi para o top 10 de vendas enquanto tenta se promover como um jogo para ensinar pessoas a não caírem em fraudes.
Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.
Podcast: a pesquisadora e escritora Yangyang Cheng inaugura o Gateway to Global China com um episódio sobre a pandemia e o legado da Covid-19 no mundo. A transcrição está disponível no mesmo link.
What’s in a name: se você já usou um app de tradução para descobrir o nome de pratos chineses escritos em mandarim, pode ter encontrado coisas estranhas e sair sem conclusão nenhuma. A Sixth Tone traz uma boa matéria sobre a tradução dos nomes do mandarim para o inglês.
Este vídeo do South China Post (em inglês) explora como Hangzhou está se desenvolvendo por meio da inovação tecnológica, originando sucessos que vão do DeepSeek ao Black Myth: Wukong.
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