Edição 352 - Capitão chinês é condenado a 3 anos de prisão por romper cabo em Taiwan
Nesta edição: Crise de entregadores em Hong Kong | A China e o Vaticano | Biotecnologia chinesa em alta | Recorde de vendas de ecommerce | Novas fotos de Tiananmen
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O rompimento de um cabo submarino no estreito de Taiwan resultou na prisão de seu capitão, um homem chinês de 58 anos, identificado apenas pelo sobrenome Wang. Ele foi sentenciado a três anos de prisão pelo incidente, causado por uma embarcação registrada no Togo. Taipei acusa Pequim de usar táticas de zona cinzenta para sabotar o arquipélago. Em resposta, as autoridades chinesas negam qualquer ação maliciosa e tratam o caso como um simples incidente de navegação. A sentença é a primeira condenação concreta diante de diversos relatos de rompimento de cabos registrados nos últimos anos por Taiwan. Embora a condenação tenha acontecido apenas agora, Wang está detido por autoridades taiwanesas desde fevereiro deste ano.
De olho no Made in China. Um novo tipo de medicamento oncológico desenvolvido por empresas chinesas, os chamados anticorpos biespecíficos, está mudando a percepção global sobre a biotecnologia do país. O medicamento faz parte de uma nova classe de anticorpos para câncer, que ataca simultaneamente pontos de controle imune. Após a apresentação de resultados clínicos promissores da Akeso Biopharma no final de 2024, gigantes como Pfizer, AstraZeneca e Merck passaram a disputar acordos com startups chinesas em negócios que ultrapassam a marca dos bilhões. Só a Pfizer desembolsou US$ 1,25 bilhão para licenciar um tratamento da 3SBio, valor que pode chegar a US$ 6 bilhões dependendo do desempenho.
O apelido “momento DeepSeek” pegou legal e é assim que vem sendo descrito este boom da biotecnologia chinesa. A reviravolta, agora, é financeira. Só no primeiro trimestre de 2025, o valor dos contratos de licenciamento firmados por empresas chinesas cresceu a bagatela de 222% em relação ao mesmo período do ano anterior. Mais do que uma tendência de mercado, o avanço consolida a biotecnologia como peça-chave da política industrial chinesa que não por coincidência tem sido impulsionada por subsídios estatais, mão de obra qualificada e mais do que tudo, ambição global.
O maior festival de vendas do meio do ano na China terminou com recorde. Batizado de 618 em referência à data de 18 de junho, trouxe números positivos para o comércio e consumo, mobilizando plataformas de ecommerce como o Taobao (Alibaba) e a Tmall (JD.com). O crescimento de vendas, porém, contou com uma ajudinha do governo e com a extensão do período promocional, não mais limitado a um único dia, mas estendido por um mês. A Reuters pondera que, ainda que haja um recorde, o número de vendas diárias teve uma baixa. No total, o festival teve vendas 12,5% maiores do que no ano passado — passando de 742,8 bilhões de yuans (570,3 de reais) para 855,6 bilhões de yuans (656,94 de reais) este ano. Entre as marcas que venderam bem estão as chinesas Haier, Xiaomi, Huawei e Midea. Já entre as internacionais figuram Apple, Nike, Adidas, L’Oreal e Lululemon.
Diplomacia entre o Vaticano e Pequim. Em um gesto que reforça o delicado pacto entre a Santa Sé e Pequim, o Papa Leão XIV nomeou Joseph Lin Yuntuan como bispo auxiliar de Fuzhou. A escolha marca a primeira designação episcopal chinesa sob o pontificado de Leão XIV, e o gesto mais concreto até agora de que o novo Papa manterá o acordo de 2018, quando a gestão de Francisco permitiu ao governo chinês opinar na escolha de bispos, ainda que seus termos permaneçam parcialmente secretos. Isso porque a indicação de Joseph Lin Yuntuan é reconhecida tanto pela Santa Sé quanto pelo governo chinês. Para alguns, trata-se de um avanço gradual rumo à reconciliação entre Roma e os cerca de 10 milhões de católicos chineses, uma vez que Lin não é o bispo mais popular entre os católicos “subterrâneos”, mas mesmo assim, a escolha do religioso sugere que a estratégia vaticana seguirá sendo a de construir pontes.
O Brasil foi o país escolhido pela BYD para a chegada do maior navio carregando carros do mundo. O motivo é “inundar” o mercado brasileiro com veículos elétricos da fabricante chinesa, líder no mercado. De acordo com cálculos feitos pela Reuters, o navio que atracou em maio no porto de Itajaí, em Santa Catarina, com o tamanho do equivalente a 20 estádios de futebol, teria trazido a terras brasileiras cerca de 22 mil veículos. Se preços mais acessíveis podem ser motivo de comemoração, para a indústria local, o desembarque vem com desconfiança e preocupação: ele acontece enquanto a fábrica da BYD em Camaçari enfrenta atrasos para entrar em operação em meio a denúncias, o que agora está previsto para fim de 2026
Chega de falar do TikTok nos EUA (até setembro). Não, o app não foi finalmente banido nos EUA, nem está enfim a salvo desse bloqueio. Depois do susto em janeiro, seguido da extensão do prazo de venda por 90 dias até abril, mais uma prorrogação de 75 dias, vem aí... um novo prazo de mais 90 dias. Na última quinta-feira (19), o governo de Donald Trump publicou uma ordem executiva garantindo mais três meses para encontrar um comprador estadunidense para 80% das operações do TikTok, que pertence à chinesa ByteDance. O imbróglio se iniciou em 2020, ainda no primeiro governo de Donald Trump, sob o pretexto de proteção da segurança nacional, e desde que Trump voltou para a Casa Branca, muitos potenciais compradores foram anunciados, mas nada se concretizou.
Calibre suas expectativas em relação à Keeta no Brasil olhando para seu comportamento em Hong Kong. A Meituan deve chegar ao mercado de delivery brasileiro logo menos, operando sob sua identidade internacional, a Keeta. A empresa promete investir US$ 1 bilhão (R$ 5,6 bilhões) por aqui até 2030 e quer cadastrar 100 mil entregadores durante o primeiro ano. Mas nem tudo são flores: como também já comentamos, desde março a empresa vem pressionando comerciantes e motoboys, se aproveitando de um mercado em baixa. A Global Voices publicou na última semana uma reportagem sobre os protestos de entregadores na região administrativa especial – onde manifestações de qualquer tipo se tornaram muito raras nos últimos anos. Como aponta o texto, a dominância da Keeta em Hong Kong envolve uma estratégia conhecida como queima de caixa (basicamente, tomar prejuízo para dominar o mercado) e coincide com investigações do governo local contra seus principais competidores.
O que querem os entregadores honconguenses da Keeta? Que seu vínculo empregatício seja reconhecido e que haja freios para a exploração algorítmica. Como contou à reportagem um trabalhador identificado como Khan, em 2023 a empresa pagava em média HKD$ 50 (R$ 35) por entrega, valor que em dois anos baixou para HKD$ 35 (R$ 24,60); além disso, a empresa tem um esquema chamado K Go que oferece mais corridas para o trabalhador, mas cada uma delas passa a ter um valor mais baixo, HKD$ 25 (R$ 17,56) – e quem não entra para o esquema recebe menos trabalho: Khan afirmou que sua demanda caiu de entre 50 a 60 entregas por dia para entre 13 e 15. Por aqui, a Keeta ainda não revelou valores, mas a notícia da sua chegada serviu para empresas já estabelecidas se mexerem um pouco: o iFood anunciou aumentos a partir de junho, segundo os quais os entregadores recebem um valor mínimo de R$ 7 por rota e de R$ 1,50 por quilômetro rodado, com um extra de ao menos R$ 3 para cada pedido adicional na mesma rota. Já a 99Food, que volta de um hiato, promete um mínimo de R$ 250 por 20 corridas ao dia, sendo pelo menos cinco de comida. Como conta a InfoMoney, a Aliança Nacional dos Entregadores pleiteia R$ 10 + R$ 2,50 por quilômetro rodado por corrida.
Falando no movimento trabalhista em Hong Kong, mais uma entidade da sociedade civil encerrou suas operações: o China Labour Bulletin (CLB). A organização fundada em 1994 por Han Dongfang, um dos organizadores dos protestos da Praça da Paz Celestial, operava na região administrativa especial defendendo os direitos de trabalhadores chineses (entre eles, os entregadores da Meituan), tanto dentro do sistema jurídico chinês quanto buscando equipará-lo às melhores práticas internacionais. No dia 12 de junho, a organização anunciou (página arquivada aqui) o encerramento de suas atividades, afirmando que seu site deixaria de ser atualizado. O anúncio de um parágrafo citou apenas dificuldades financeiras – mas no dia seguinte, o site da CBL já não estava mais no ar, e questionamentos surgiram sobre a coincidência do encerramento com uma operação anunciada no mesmo dia pelo governo de Hong Kong em parceria com a China. Como conta o ativista Brian Kern em sua newsletter, esta é a primeira vez que o governo local admite uma atuação conjunta entre seu Departamento de Segurança Nacional com o escritório de segurança nacional chinês em Hong Kong. Segundo o press release da administração, o caso envolveu seis pessoas e uma organização acusados de “conluio com forças estrangeiras para ameaçar a segurança nacional”. A CBL declarava em seu site receber financiamento estrangeiro.
Zheng He foi um grande explorador chinês do século XV. Sob seu comando, o império da China chegou a praticamente todos os cantos do mundo. Esta seção é inspirada nele e te convida a explorar ainda mais a China.
Negativos: 36 anos se passaram, mas ainda novas fotos dos protestos na Praça da Paz Celestial seguem surgindo. Vale conferir os negativos escondidos por décadas pelo fotógrafo Xu Yong, que guardou a sete chaves seu trabalho com medo da retaliação do governo chinês.
Ne Zha no Brasil: Deve chegar aos cinemas nacionais a animação Ne Zha 2, que estreou na China no fim de janeiro e virou a animação mais bem sucedida de todos os tempos. A data de estréia ainda não é 100% certa, mas fala-se em meados de setembro.
A esta altura você provavelmente já ouviu falar do Labubu. Essa toy art vendida pela chinesa Pop Mart começou a aparecer nas bolsas de celebridades no ano passado, e desde então virou uma febre – e um mercado gigantesco. A Pop Mart International Group Ltd. viu suas ações subirem 180% em um ano, chegando a HKD$ 350 bilhões (R$ 245,79 bi.), ficando atrás apenas da Disney e da Nintendo.
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